Scaramouche, scaramouche.
Eis que começa a temporada final
de Sons Of Anarchy e podemos esperar tempos sombrios e violentos. Ou melhor:
tempos ainda mais sombrios, violentos e cheios de sangue. Reação natural aos
impactantes acontecimentos da Season 6, quando a série foi alçada a um nível
diferente de ousadia, afinal, não é todo dia que vemos personagens importantes
serem sumariamente eliminados. E sim, isso é surpreendente mesmo para o “padrão
Kurt Sutter” de maluquice em roteiros.
O que não pode ser negado de
maneira alguma é o fato de que a única pessoa que deve morrer, nunca morre.
Claro que estou falando de Gemma, essa cândida alma que, se retirada da
equação, seria determinante na diminuição dos problemas e do festival de
defuntos que vimos ao longo dos anos. Não quero dizer que desejo a morte da
personagem. Somente alguém fora de órbita diria algo assim, mas é uma
observação válida e já começo a pensar se, ao final, veremos o grande embate
entre Jax e Gemma. A mãe que mesmo amando demais, sempre foi e sempre será a
maior inimiga do filho.
Essa Season Premiere é
principalmente sobre isso. Há, é claro, toda a movimentação normal dos Sons, dos
Mayans, de Nero e dos chineses, mas os acordos em andamento, desconfianças e
negociações são secundários. A temporada será sobre o jogo perigoso que Gemma
estabeleceu para ser a “forte presença feminina” na vida dos netos e dos
filhos. O golpe contra ela pode vir de Wendy, mas não gosto da possibilidade.
Verdade é que, para mim, Wendy poderia nunca ter voltado, pois é dona de uma
das storylines mais bobas da série.
Depois de tudo o que aconteceu,
impressiona a frieza de Gemma. “Não sou uma psicopata”, ela diz. Mas que ela
tem uma boa dose de psicopatia em sua personalidade é inegável. Mesmo sendo
emocional – e agindo sem pensar por conta disso – Gemma pode ser fria e focada
como nenhum outro personagem. Essa mulher elimina maridos, noras e quem entrar
em seu caminho, mas também é grata, como com Unser e Juice.
Aliás, vale abrir aqui uns
parênteses sobre esses dois: eles são feitos de aço. Unser é, ironicamente, o
cara com câncer terminal que nunca desencarna. Juice é o cara azarado com mais
sorte até aqui. Nem suicídio ele consegue cometer e mesmo quando está com tudo
contra ele, existe ainda algo que o leva adiante. Agora vemos um verdadeiro
duelo de titãs, um duelo de imortais. Quem sairá vivo do octógono? Juice ou
Unser? Nem eu sou capaz de arriscar.
Voltando ao assunto principal –
Gemma e Jax – chega a ser doloroso ver como Jax é facilmente enganado. É
doloroso porque quero crer que ele é o “herói”, o cara de visão que pode até
estar cego pelas circunstâncias, mas que vai fazer diferente. Não vai. Essa é a
conclusão. A essa altura, creio que o provável abandono dos Sons Of Anarchy
seria a pior saída para finalizar a série. O grande lance é que não há saída e
que Jax não quer e nunca quis uma saída. A reação dele à morte de Tara poderia
ser outra, num estalar de dedos. Ele poderia pegar os filhos e desaparecer, mas
ele escolhe o clube e a proximidade com a mãe e até com a ex-mulher. Uma série
de muletas psicológicas insustentáveis.
Jax tem em seu olhar a vingança
estampada. Notamos esse desejo por violência na prisão, onde ele já começa
muito bem, fazendo contato com neonazistas que, não por acaso, são chefiados
por Paul Pfeiffer dos Anos Incríveis, digo, Marilyn Manson. Vamos ver onde
esses acordos com o diabo vão desovar.
E mais vingança veio contra os
chineses. Foi tão mal armado que não sei como ele não desconfiou. Gemma chega e
conta uma história absolutamente sem sentido e tudo se desenha facilmente. A
vontade de espelhar sua própria dor nos outros é o que move Jax nesse inicio de
temporada e a sequencia final não deixa por menos.
Trilha sonora calma, com a versão
mais country de Bohemian Rhapsody e cada movimento sendo calculado. Passei
nervoso, como sempre, pela expectativa gerada e o resultado foi certeiro,
embora fosse previsível. Não pude deixar de imaginar se Jax faria aquela
cerimônia de tortura com Gemma. É palpável também a tensão com Nero. Jax perdeu
a cordialidade totalmente, então também espero alguma coisa dando errado
(sempre!) nessa relação.
Outras cenas interessantes foram
a da proposta de trabalho para Unser, a do assassinato dos pastores no meio de um gang bang e a de Chibs e Bobby
arrastando aquele maluco da cadeira de rodas ao longo da rua. Esse é o tipo de
sequência que faz de Sons Of Anarchy o que ela é e sempre foi. O que ela se
tornará nessa temporada final, estamos por descobrir.