Sobre ser o que se é.
Só resta um episódio em nossa
jornada de sete anos com Sons Of Anarchy. Essa é a constatação triste que
precisamos fazer nesse momento e algo que se repete cada vez com mais raridade.
São poucas as séries que estão nesse patamar de qualidade e que tem uma
trajetória tão consistente, por isso, a despedida, nos próximos dias, tende a
ser agridoce.
Até lá, no entanto, temos muito
do que falar, já que esse penúltimo episódio traz muitas resoluções e deixa
outras tantas preparadas para a Series Finale. Boa parte do tempo foi dedicada
às questões territoriais e vimos de perto aquele caldeirão de acordos fervilhando,
com os mais variados elementos: latinos, negros, asiáticos, nazistas, irlandeses
e o próprio clube. Essa sempre foi a parte mais complicada de entender em Sons
Of Anarchy, pelo menos à primeira vista. As mudanças são constantes e num piscar
de olhos as alianças se desfazem ou surgem para nos surpreender.
O principal é que agora, a
questão não é a vingança, mas consertar o que for possível, depois de tantos
estragos desnecessários. A enxurrada de mortes continua, pois sem elas seria
impossível criar um cenário ideal para o recomeço de tudo e é preciso
estabelecer que Jax é um dos elementos que deve estar fora da jogada, caso
contrário nada funcionará e seus esforços serão em vão.
Esse é o momento em que ele
compreende, verdadeiramente, as palavras de seu pai e tudo indica que Jax
caminha para um final bastante parecido. Para ele não existem mais limites de
corrupção. Jax foi corroído até as entranhas por tudo o que o clube envolve e
sua serenidade nos pontos mais críticos e emocionais dão a entender que o final
da série será também o final da vida de Jax.
Esse pensamento vem de diversos fatores,
dentre eles, o encontro final com Gemma. Se alguém esperava gritos e brigas se
frustrou, mas a verdade é que nada mais restava a dizer e fazer. A relação fora
destruída. Reduzida às cinzas. Um amor maternal tão grande que consumiu além
dos limites. Gemma deu adeus ao pai e esperou por sua própria despedida entre
as flores, numa cena que nos deu uma visão privilegiada de mãe e filho.
“Nós somos assim”, ela diz. E
está tudo bem. Gemma educou Jax para agir exatamente dessa maneira e não
esperava nada diferente. Entre os Teller, traição só se resolve com a morte do
traidor e os pecados de Gemma eram grandes demais para serem ignorados. Confesso
que não foi sem dor que vi a melhor personagem da série sucumbir. Torci para
que Jax desistisse, mas era improvável. As rosas brancas se mancharam de vermelho
com um tiro certeiro.
Essa era a cena mais esperada
pelos fãs, sem dúvida. Minutos tensos e honestos que nos mostram o poder dessa
história e as nuances desses personagens incríveis. Matar a mãe, no sentido
figurado, tem muitos significados e o maior deles é a libertação. Jax teve que
ser literal para alcançar essa liberdade e só temos mais um episódio para saber
o que ele fará com essa carta na manga.
Como já disse, creio que ele
caminha para o abismo. Está em paz com Wendy e nos mostra que vê em Nero uma
espécie de “pai substituto” para Abel e Thomas. Tirou Unser da equação com
frieza e facilidade e vai entrar em uma série de grandes brigas até que seja
expulso do clube, por votação unânime. O que resta para ele senão a morte? Uma
vida ordinária longe dali? Muito improvável. Não imagino Kurt Sutter escolhendo
esse desfecho para Jax e ficando confortável com isso.
Com tudo isso, sabemos, apenas,
que o episódio final será focado em Jax e no clube. Cada um dos sobreviventes –
não há outro modo de chamá-los a essa altura – deve ter seu espaço e sua
despedida. Jax, em suas movimentações nesse tabuleiro, está mexendo as peças
para que ele, e apenas ele, pague pelos erros cometidos. Claro que não dá para
descartar a morte de mais algum membro dos Sons, mas não sei de restariam
homens suficientes para que a estrutura continuasse operante.
Nem mesmo Juice resistiu. E vejam
bem, ele dançou com a morte por muitas temporadas até que, depois de dezenas de
infortúnios, pode encontrar um fim sereno, pelo menos em face do que poderia
ter acontecido. E nós sabemos que possibilidades piores, muito piores, existem.